Nova estratégia de marketing para o Tapajós


Publicitário santareno que acompanha (ativamente) há décadas o desenrolar do movimento em prol da criação do Estado do Tapajós, Eduardo Dourado, 51 anos, acha que está na hora de mudar a estratégia de marketing da luta separatista. Defende, inclusive, a mudança da logomarca do movimento – o mapa delimitando a área do novo estado. “A marca é antiga, não tem força como algo novo, moderno e progressista”, explica.
Dourado prega mais agressividade do movimento além-Santarém, principalmente nos municípios incluídos na área territorial do Tapajós.

Como o Estado do Tapajós deve ser vendido lá fora?

O objetivo dos opositores é justamente alterar o que está estabelecido, e a construção dessa nova hegemonia política exige o deslocamento de setores dominantes. Isso não tem como ser feito usando as ferramentas do marketing tradicional. A postura do pessoal de Belém, através do jornal O Liberal, por exemplo é espernear, reagir e tentar tumultuar o processo. Aliás, acho que se eles entrarem no jogo com esse espírito, só têm a perder. É como uma partida de xadrez: a cada movimento virá uma reação.
Agora, o que precisa ser feito para que a idéia seja vendida lá fora? Esse movimento não pode ter caráter político partidário. Acho que é essa a principal condição para que comece a dar certo. Também acho que a “inteligência santarena” precisa ser convidada para participar da luta. Pessoas que já usaram o tema como mote de campanha política deveriam ficar de fora, mesmo porque não se conquistou nada com isso – nem eles, nem o movimento.

O que deve ser feito em Belém para neutralizar o ataque dos opositores?

Precisa ser feito um mapeamento minucioso na cidade. Certamente serão encontrados empresários, lideranças, intelectuais, veículos de comunicação simpatizantes à proposta. Em Belém, não existe só O Liberal.

E nos municípios incluídos no território do novo estado?

Nas rádios de cada município, por exemplo, deveriam produzir mensagens valorizando o local, destacando a importância do município no novo estado, peças publicitárias para veiculação na mídia eletrônica, colocando o assunto em discussão, formando opinião a respeito e transformando em pauta diária da imprensa. Enfim, texto, imagem e os métodos de comunicação precisam ser desenvolvidos, inovados, estabelecendo um novo discurso, uma nova prática de marketing. Ao invés de impor mensagens de cima, como é típico do marketing tradicional, precisa-se estabelecer a comunicação numa relação dialética com mulheres e homens excluídos desse movimento, criando e estabelecendo novos critérios de construção de imagem, de maior identificação com o povo. Tanto a idéia de que os fins justificam os meios e a de que os meios - de comunicação - justificam os fins, precisam ser deixadas no baú dos erros cometidos nas campanhas passadas. Pois, como diz meu amigo jornalista Paulo Querino: “Podemos ser mais....podemos ser melhores!”

E aqui em Santarém?

A idéia do Estado do Tapajós não pode ser trabalhado como um produto a ser "vendido" no mercado de Santarém. O motor da sua campanha de marketing tem que ser um conjunto de idéias disseminada no meio de todo o povo do Oeste do Pará, através da informação apolítica partidária, e a importância que cada cidade inserida nesse novo mapa terá. A construção desse marketing alternativo precisa partir do entendimento de que o cidadão não deve ser tratado como objeto da mensagem, mas como um sujeito pensante capaz de ações concretas para que ele próprio possa dar continuidade na comunicação. Entender o que a maioria pensa, como pensa em melhorar a forma de dizer o que precisa ser dito. O produto a ser moldado não é o novo estado, mas o conjunto das transformações que serão construídas a partir da criação dessa nova unidade da federação. Na verdade, trata-se de dar ao cidadão a possibilidade de se tornar sujeito do processo. Se possível, militante de um conjunto de idéias que envolvam a sua participação. Construir este marketing alternativo é fazer revolução.

Quer dizer hoje não existe estratégia de venda deste “produto” em Altamira, por exemplo?

Se você perguntar a qualquer pessoa que more na região Oeste do Pará se é a favor da criação do novo estado, seja ela de Altamira ou não, com certeza dirá que sim. Mas se você perguntar o porquê certamente a grande maioria dirá “não sei”. A superação desse conflito se dará trabalhando para que os desejos do cidadão concordante com a idéia separatista se transformem em movimento consciente, em ação transformadora da sua própria realidade. E como fazer isso? Informação, informação, informação... Acho que o mestre Hélvio Arruda deveria promover mais um curso de gestão nas Faculdades Integradas do Tapajós. A gestão do conhecimento.

Tapajós ou outro nome?

Em 1876, o militar Augusto Fausto de Sousa propôs nova divisão do Império em 40 províncias, incluindo a criação do estado de Tapajós, no oeste paraense. A proposta foi esquecida, mas o nome acompanha até hoje o movimento de emancipação da região. O nome tem, então, 129 anos. O rio Pará que deu origem ao nome Estado do Pará até no mapa é difícil da gente encontrar. Acho que o nome não tem tanta importância, mesmo porque a cultura tapajoara não se resume em um rio, é muita mais abrangente, é muito mais rica. O povo tapajoara veio dos Andes. Talvez tenhamos sido até a lendária Atlântida um dia. Nós, povos da região Oeste do Pará, de alguma maneira somos todos tapajoaras ou tapajônicos. Só não concordo com a marca Estado do Tapajós feita em cima do mapa. Como substância de informação dos municípios que comporão o novo estado pode até ser aceitável, mas como marca é antiga, não tem força como algo novo, moderno e progressista.

Comentários

Anônimo disse…
A idéia de criação do Estado do Tapajós ainda se restringe, como bem frisou o Sr. Eduardo Dourado, a Santarém. Nas cidades da Transamazônica, o caso é mais crítico ainda, pois existe oposição ao movimento de emancipação. Isso se reflete na própria postura de alguns parlamentares daquela área, como é o caso do deputado petista Airton Faleiro, que nunca se posicionou claramente sobre o assunto. Acho que postura como essas só servem para diminuir o ímpeto do movimento. Ano que vem tem eleição e senhores como o deputado Faleiro vão mudar de discurso no palanque para conseguir a reeleição.