Prefeito de Óbidos defende soja

Em entrevista publicada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, o prefeito de Óbidos, Jaime Silva (PTB), olha o avanço da cultura na soja no município como sinal de desenvolvimento. Eis a íntegra da entrevista:

A cidade tem nome de vila portuguesa - herança da Coroa, que em 1697 construiu um forte no trecho mais estreito e profundo do Rio Amazonas, ponto estratégico na selva. A estrutura, contudo, é de cidade brasileira deficiente. Óbidos tem mais de 47 mil moradores que dependem do funcionalismo público para viver. Da metade que vive no campo, a maioria realiza cultivos de subsistência. Segundo pesquisa do IBGE, o desmatamento e as queimadas têm influenciado negativamente a vida da população. O prefeito Jaime Silva (PTB) admite que madeireiros e produtores de soja têm se instalado na região, sem perceber a ação como problema, mas, sim, como forma de desenvolvimento.

O desmatamento é problema para Óbidos, como indica o IBGE?

Não estou sabendo. De onde o IBGE tirou isso?

Do próprio município. Os dados foram coletados em 2002 e 2003.

Então quem disse foi a gestão anterior. Assumi o cargo em janeiro. Não tem nada disso, não.

Aquelas clareiras ao norte da cidade não são desmatamentos?

Ah, sim, claro. É, tem um pessoal se instalando ali. Sabe o que é? Isso tudo é pressão da nova fronteira agrícola. Com a pressão que existe no sul (da Amazônia), o sojeiro vem para cá e se instala. Não tem mais terra em Mato Grosso, então os sulistas investem aqui.

Como esse sojeiro pretende escoar a produção?

Há algumas estradas que cortam o município e ele pode usar o porto.

Prefeito, esses produtores de soja têm terras tituladas?

Vou falar uma coisa sobre terras tituladas: 25% da nossa área pertence a propriedades rurais. O restante está legalmente protegido. Os maiores detentores de terras aqui são os índios. O produtor não tem propriedade grande. Antes até 500 hectares recebiam titulação, aí foi diminuindo e chegou a 100. Só que cada um dá um número sobre quanto deve ser preservado. O responsável pelo desmatamento é o próprio governo, que não define o que é reserva legal. Até pouco tempo atrás, eram 50%, agora são 80%. A pessoa já desmatou para montar a produção. O que fazer? Replantar? Quem paga? Aí não consegue financiamento. Não tem como ele recompor a floresta se não tem título nem financiamento.

Sem grandes propriedades, a soja ainda assim pode trazer desenvolvimento?

Um dia os grandes produtores vão chegar. Já estão chegando. Espaço tem, mercado tem. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo e quer manter essa posição. O que precisa é pensar em um modelo de desenvolvimento sustentável do setor rural na região.

A extração de madeira no município ocorre de forma legalizada?

A maioria do que conheço acontece em terra legalizada. Mas vou dizer uma coisa: o Estado de direito não existe mais neste País. Dez, 15 anos atrás, Óbidos vivia do extrativismo. Aí aparece uma pessoa revestida de ambientalista, que diz que estamos desmatando e caçando e cria uma área de proteção. Há um grande mito sobre a Amazônia, de que aqui não tem ninguém. Só lembram da Amazônia quando se está desmatando. Ninguém preserva o verde com o bolso no vermelho. O governo precisa dar nova opção de atividade para a população ou ela vai tirar madeira. É fácil dizer que não pode.

Comentários

Infelizmente, tive que ficar sem ler o blog por alguns dias, mas ao retornar deparei com este misto de entrevista e anarquia política.
Conheço diversos obidenses. Inteligentes, argutos, professorais. Nenhum como este prefeito: se não existe estado de direito, o que ele está fazendo na Prefeitura? Deveria ler o que diz a sua Lei Organica!
Queria fazer minha as palavras de Lúcio Flávio Pinto (a quem peço desculpas pela utilização sem permissão), publicada em seu Jornal Popular de maio/2005 - 2a. quinzena:
"Essa tendência manda um recado claro ao distinto público: sempre que a atividade economica aquecer, por mais artificial que seja o aquecimento, tudo o que canta a musa da ciência, da informação, do conhecimento e do saber sobre o melhor trato da Amazônia será mandado às calendas gregas, metaforicamente falando em linguagem neoliberal, ou às favas, em dialeto neoproletário."
E, ainda tem mais. Quer saber leia a Agenda Amazonica do Lúcio Flávio Pinto.