Blocos atentam contra a moral

Foto: GAZETA

Um é economista (o primeiro à esq.), outro é pastor evangélico (à dir.) e o terceiro, uma enfermeira (ao centro).

Em comum: são vereadores em Santarém e estão preocupadíssimos com os nomes de duplo sentido dos blocos carnavalescos de Alter do Chão.

Há Jacu no pau, A Pomba, Arranca Baço, Eu não dou meu Kuati, entre outros, segundo o entendimento dos nobres parlamentares atentam contra a moral, os costumes e até inibem o fluxo de turistas na quadra momesca para badalada vila balneária santarena.

Por isso, devem ser abolidos. Colocados no Índex das perversões.

Ontem, em pronunciamento na tribuna da Câmara, o trio externou esse, digamos, tão maléfico e contudente problema.

Marcela Tolentino, a enfermeira, foi quem puxou a questão. Revelou, contudo, que falava em nome de "moradores da vila" contrários às denominações escandalosas.

- Quero ressaltar que não estou querendo levantar discussão, polêmicas, nem ser careta, mas a comunidade me procurou e eu, como representante do povo, estou lançando esse convite para uma reflexão - disse a vereadora, filiada ao PDT.

Reginaldo Campos, o pastor, fez coro às palavras da colega, acrescentando:

- É um absurdo usar a liberdade para se falar o que a sociedade não merece ouvir, como nesse caso de Alter do Chão, onde crianças, adolescentes e idosos acabam se envolvendo no Carnaval - protestou o vereador do PSB.

Economista, Valdir Matias Jr., do PV, não deixou por menos. Para ele, o Carnaval de Alter do Chão corre sério risco de ser rechaçado pelo mercado se não abolir as salientes denominações.

- Se não tivermos o mínimo de bom senso, não vamos conseguir vender um produto que está com sentido muito pejorativo.

Comentários

Anônimo disse…
Moro em Macapá há alguns anos e voltei para passar o carnaval com minha família na minha terra querida, escolhendo Alter do Chão para os dias momescos. Não critico tanto os nomes de duplo sentido dos blocos, pois isso é muito comum Brasil afora, mas o desfile destes blocos foram levados num alto grau de vulgaridade. Não vejo no que isso possa atrair turistas, principalmente famílias. Fiquei constrangido na frente de minha filha de 11 anos. Totalmente desnecessário. Ano que vem vou para Óbidos.

Mário Stelmer
Jota Ninos disse…
Pensata
Contribuição lingüística para zelosos edis

Alter-do-chão já foi chamada de “Caribe da Amazônia”, mas há outro epíteto que mais se adequa à nossa Vila Borari: “Babel Tropical”. Não só pela eterna invasão de turistas de todas as partes do mundo, mas principalmente pelas polêmicas lingüísticas que lá se travam.
Pra começar, o próprio nome da vila até hoje é controverso e pelo menos uma das explicações para a sua origem seria a de que na primeira missa rezada por jesuítas portugueses em suas brancas areias teria sido usado um altar rente ao chão. Daí, o altar, no sotaque português interpretado pelos nativos, soar como “alter”... do chão. Nem sei isso é verdade, mas faz sentido.
Aí veio o tal do Sairé, que de repente virou “Çairé” por motivações de marketing, e causou um frisson lingüístico e uma guerra cultural entre intelectuais ou não. Recentemente saiu o “Ç” e voltou o “S” e talvez numa próxima administração voltemos ao “Ç”. Tudo dependerá de que “lingüista político” estará no poder.
Agora chegou a vez de substituir a batalha de farinha do “Carnalter” por uma nova batalha lingüística.
Diante da mediocridade do carnaval em Santarém, os blocos com nomes de duplo sentido praticamente quintuplicaram em menos de uma década de “Carnalter”. Só que isso criou um novo frisson entre nossos zelosos edis, que resolveram levantar a bandeira da moralidade contra essa ousadia popular.
Como se não houvesse mais nada de importante para se discutir no plenário da Câmara, três vereadores resolvem promover mais uma contenda lingüística de cunho inquisitório, pela moral e pelos bons costumes de nossa gente...
Resolvi fazer um pequeno estudo e propor nomes mais pudendos aos blocos, como sugestão à cruzada moralista dos nossos zelosos edis. Para isso, reli um dos fascinantes textos do sarcástico escritor carioca Millôr Fernandes, de seu livro “Tempo e Contratempo” (1954). Na crônica “Provérbios modernizados”, Millôr utiliza de seu estilo mordaz e reescreve de forma erudita ditados populares que do alto de sua singeleza “nos ensinam antigas lições”, como diria Vandré.
Assim, o velho ditado “De grão em grão a galinha enche o papo”, transforma-se num texto de refinamento científico digno de ouvidos intelectualizados: “De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda e asas curtas e largas da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem algum tempo antes de passarem à moela”
Seguindo o mesmo estilo “milloriano”, aqui vão minhas sugestões para os nomes de blocos do Carnalter, de forma a não ferir os sensíveis ouvidos de nossos ilustres representantes do Poder Legislativo no ano que vem:

1.Bloco “Existe uma ave cracídea num pedaço de madeira!” (“Há Jacu no pau”);
2.Bloco “Nego-me a doar o mamífero procionídeo que me pertence” (Não dou meu Kuati”;
3.Bloco da “Ave Columbídea” (“A Pomba”);
4.Bloco “Aplica teu olfato numa ave psitacídea pequena” (“Xeira o Periquito”);
5.Bloco “Tira o órgão linfóide situado no hipocôndrio esquerdo!” (Arranca Baço”)

Espero ter contribuído com os senhores edis para que moralizemos nossa língua em pleno carnaval, pois como disse o próprio Millôr no mesmo texto: “Aquele que anuncia por palavra tudo que satisfaz ao seu ego, tende a perceber pelos órgãos da audição coisas que não se destinam a aumentar-lhe o sentimento de euforia” (traduzindo: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer!”)
Anônimo disse…
Para começar o ritmo do carnaval da vila não tem letra tem batidas e barulhos."Aquele povo que estava em Alter-do-chão queria apenas cansar o corpo pra descansar a mente"(Neucivaldo Moreira), o poeta tem razão, estava presente com a minha família, crianças de 12 anos que sabem diferenciar muito bem as coisas...

Aquela festa sim, é do povo santareno, se os turistas vierem pra cá, bem vindos, mas ela é nossa, comércio ali só de maizena e trigo...

POR FAVOR, DEIXEM O POVO BRINCAR EM PAZ!

Imoralidade, são as manchetes de jornais denunciando verdadeiros assaltos ao país.
Anônimo disse…
Não acredito nisso... não tem coisa melhor para esses vereadores fazerem, não? Falta-lhes uma enxada? a
Anônimo disse…
Se fosse p trocar o nome do nosso bloco,tracaria p/ TOPA TUDO P/DINHEIRO.e j´tenho um trecho do musica pronta,onde diz:Eu estou aki,mas se me derem 50 mil,passo pro lado de lá,ninguem sabe ninguem viu,kem votou em mim ki ñ achar bom,vai p/ ponte ki partiu.
Anônimo disse…
Caro Jeso.
Não consigo dormir com um barulho destes. Quem é o vereador Valdir Matias (PV) para cobrar moralidade de qualquer coisa nesta terra?
Imoral e indecente foi a roubalheira, malversação, locupletação e enriquecimento ilícito patrocinada por sua mãe, a ex-secretária municipal de Educação, Maria José Marques e por seu pai Valdir Matias, nos cofres da Prefeitura de Santarém e que lhe renderam processos na Justiça Federal.
Mais, quem não sabe a história do garimpeiro 'blefado' que descobriu um garimpo sem malária na Semed, onde o filão do ouro, passava pelo gabinete da sua mulher.
Cobrar moralidade agora! O melhor que ele faz é ficar calado e se envergonhar desta realidade, que jamais será esquecida pelos santarenos.

José Arapiuns