Cadeia de impunidade

por Edilberto Sena (*)

O governo brasileiro parece envergonhado, indignado e carregado de outras emoções por causa de um registro de mais um escandaloso desmatamento na Amazônia. Não só escandaloso, mas desastroso desmatamaento. Promete agora, já meio tarde, uma força-tarefa para atacar os criminosos e estancar a devastação.

Como alguém disse antes: será chantagem ou será verdade que agora é pra valer esse arroubo de indignação presidencial? A ministra do Meio Ambiente, segundo informações, foi quem primeiro anunciou o resultado da pesquisa do Inpe, em reunião do conselho de ministros. E dividiu a responsabilidade com sua colega Dilma Rousself, que há um ano ficou responsável de zelar pelo desmatamento zero.

Já o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, misto de mucura tomando cota do galinheiro, pois é o maior desvastador de matas, dado que é o maior plantador individual de soja do Brasil, preferiu dizer que o Inpe está mentindo. Que os números estão errados, como que diz que no Mato Grosso não se derrubou nenhum pé de imbaúba.

Para manter a Amazônia gerando riquezas e gerando bem-estar para os moradores da região e o bem do Brasil e do planeta terra, seria preciso o governo eliminar da região mineradoras, as grandes fazendas pecuárias, as madeireiras, o agronegócio da soja e deixar de construir grandes hidroelétricas nos rios amazônidas.

E não é para deixar a floresta intacta, mas sim criar um novo sistema de tirar as riquezas daqui, sem derrubar matas, nem expulsar os ribeirinhos de seu habitat e garantir orientações para extrair o que as florestas oferecem sem precisar destruí-las. Um novo modelo de administrar a floresta que não seja esse depredador atual, onde uns poucos ficam ricos, iludem a população local com um empreguinho, em geral temporário, e deixam a região poluída, destruída e mais pobre.

Infelizmente não é essa a política do governo brasileiro, que favorece a entrada das multinacionais, estimula o agronegócio e ainda anuncia construção de grandes hidrelétricas para gerar "energia limpa para os de lá".

Aí, diante do desastre anunciado mais uma vez, o governo chega com falsos alarmes e grandes promessas de fiscalização por terra, ar e rios, sem vontade política. Isto é conversa fiada.

O Ibama em Santarém tem feito milagre com constantes apreensões de madeira ilegal. Os pátios do órgão estão lotados. No entanto, depois que o Ibama faz sua parte, não se ouve mais falar de algum criminoso de madeira pagando multa ou indo para o presídio.

O Estado, e aqui se inclui o Judiciário, não demonstra seriedade na aplicação de cuidados para moralizar sua presença na Amazônia. Se o Ibama prende 3 ou 4 caminhões com madeira ilegal, mas o resto do aparato estatal não funciona e aí os criminosos da floresta já pegaram a manha.

Informantes dizem que no preço da madeira que eles exportam já incluem a multa a ser paga, caso os furtos forem apanhados e sentenciados. Se o governo quer ser levado a sério terá que, além dos 780 membros da Polícia Federal terem que vir permanente à região, tem que aparelhar bem os outros órgãos como Ibama, Incra, Ministério público federal.

Isto, além de o Judiciário por na cadeia os criminosos. Mas, vamos observar o que vai ocorrer nestes dias e daqui a um ano.

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* Santareno, é padre diocesano. Dirige a Rádio Rural AM e é pároco da igreja de N.S. de Guadalupe, no bairro de Nova República.

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