Desmatamento e mais um oba-oba

por Edilberto Sena (*)


Os números são tão alarmantes que se fica até com a pulga atrás da orelha. 3.235 km² desmatados apenas nos 5 últimos meses de 2007. Mas como pode ter tudo isso contecido se desde 2005 o governo vinha anunciando a queda vertiginosa no desmatamento da Amazônia? Se estava havendo rigorosa fiscalização, como isso aconteceu assim de repente?

Aí o governo anuncia uma reação espetacular para punir os criminosos. Também aqui um observador atento fica com a pulga atrás das duas orelhas. Primeiro, os maiores desmatamentos ocorreram no Mato Grosso e no Pará. Ora, no Pará estão as mais densas florestas. Junto com o Amazonas, os dois reúnem o maior número de unidades de conservação, criadas justamente nos últimos seis anos.

Na indignação do presidente da República, a promessa de punições aos criminosos são
altamente severas. Vão de embargo de propriedade, a bloqueio de financiamentos bancários. Além disso, observe-se esta, o governo estará enviando exatamente 780 policiais federais para as regiões mais desmatadas.

Isso mesmo: o presidente está finalmente indignado e quer fiscalização rigorosa por terra, rios e ar. Fica–se com a impressão de que agora vai haver uma mobilização geral na defesa do meio ambiente na Amazônia. Parece que de repente o Estado acordou para um problema que vem ocorrendo há anos na região.

Mas, pois é, sempre um mas, por que todo esse arsenal não tem sido utilizado desde 2005, quando a quilometragem de floresta arrasada já era enorme? Entre 2002 e 2003 foram 28 mil kms² de desmatamento; de 2003 a 2004, foram 26 mil km² de floresta derrubada.

Aí o governo sentiu o peso das críticas, iniciou uma fiscalização um pouco melhor e a derrubada de floresta amazônica diminuiu para cerca de 16 mil kms² e a ministra do Meio Ambiente cantou vitória). Por que só agora quando o caldo está derramado, chega novo grito indignado do governo?

Até parece com o espetáculo federal após a morte da freira Dorothy, quando, sob pressão nacional e internacional, o governo mandou o Exército ocupar a região do Anapu. Depois que e emoção passou, os soldados foram embora e a vida continuou na rotina de sempre.

Será que esse aparato todo de agora é para acalmar os países do 1º Mundo que se preocupam com o desmatamento da Amazônia? Ou será que todo esse barulho é para justificar a privatização das florestas, através do plano de gestão florestal que já começa a ser leiloado?

Esse plano, aliás, é bem controvertido, mas assumido com entusiasmo pelo governo e a ministra do Meio Ambiente. Um plano que deixa suspeita de ser a privatização das florestas, um oficialização da grilagem que a partir disso deixa de ser grilagem, pode render alguns reais para o cofre público, mas em vez de se criar uma rigorosa guarda florestal, reforçar o Ibama. Mas não, entrega-se a floresta nas mãos da iniciativa privada.

Tudo isso são hipóteses que a sociedade precisa ficar atenta e conferir daqui a alguns meses.

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* Santareno, é padre diocesano. Dirige a Rádio Rural AM e é pároco da igreja de N.S. de Guadalupe, no bairro de Nova República.

Comentários

Anônimo disse…
Padre,

"Se estava havendo rigorosa fiscalização, como isso aconteceu assim de repente?"

Esta rigorosa fiscalização foi incapaz ou não quis: Detectar, impedir ou punir as derrubadas e a abertura de uma pista clandetina na FES do IRIRI aberta na barranca do rio Curua uma APP mesmo que não localizada em uma de reserva na TERRA DO MEIO MUNICIPIO de ALTAMIRA,PA um dos Municipios integrantes da relação dos que mais desmatam.

Somente um acidente de avião, amplamente divulgado pela imprença, envolvendo o prefeito do Municipio de Novo Progresso revelou este e muitos outros crimes.Praticados impunimente , até agora pelo prefeito.

O Municipio de Novo Progresso também esta na lista dos que mais desmatam.

Quantos outros crimes não são detectados ou não querem detectar por incapacidade , omissão ou conivencia..............?

PRECISAMOS DA PRESENÇA DE GOVERNO.


Patricia

Novo Progresso,PA.