A leseira do cuximã

por Nelson Vinencci (*)


Enquanto figuras das encrencas do Carnaval santareno brigam - uns querem a orla, outros não; uns querem uma noite pra blocos de enredo, outros querem misturar tudo, enredo e empolgação (essa engrisilha toda parece dar um clima pai dégua para a festa popular) - o meu amigo Nerivaldo César falar na TV que abadá, agora, é cuximã.

Segundo ele, do sovaco da cobra, o bem intencionado Laurimar Leal foi quem pesquisou que os nossos índios usavam o tal cuximã. Para que mesmo? Pular carnaval! Sinceramente, não sabia que índio pulava Carnaval nas tribos.

Por isso, é meio estranho querer que o povão use a tal vestimenta porque os índios usavam. É demais. Acredito que nem tudo que é bom pra uma tribo é bom para outra. Apesar de eu ser também um índio misturado com outras raças e tribos, me recuso a usar o cuximã. Minha tribo andava sem veste peitoral, de peito aberto no tempo.

Algumas idéias realmente são sacadas boas, que dá até pra gente engolir, mas dizer que mudando de abadá pra cuximã vai mudar a cara do Carnaval da Bahia, que os blocos santarenos importaram, é brincar com a nossa cara.

Manos Nerivaldo e Paulo Costa, assumam que o Carnaval do trio e da pipoca, trazido da Bahia pra cá, é um sucesso e rende até um dinheirinho que a gente compreende. Mas não confundam bata de árabe com bunda de índio. Vendam abadás, brinquem Carnaval até o sol raiar, mas esqueça essa leseira de cuximã.

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* Cantor e compositor tapajônico. Escreve regularmente neste blog.

Comentários

Anônimo disse…
Nelson, irmão, vejo que a proposta do "cuximã" deveria nos levar a uma reflexão maior do que simplesmente a decisão entre o concordo ou discordo. Você está certo em dizer que não é só porque algo foi usado pelos indígenas que será automaticamente bom para ser usado pelos santarenos. Eu nem sei mesmo como seria essa indumentária indígena-carnavalesca. Mas, conhecendo o espírito de Laurimar Leal, um defensor ardoroso das nossas coisas nativas, concordo com a inspiração inicial. veja.

O Carnaval no Recife tem a cara dos recifenses e pernambucanos, com sua diversidade e irreverência típicas. O Carnaval em São Luís do Maranhão é único com suas raizes afro-indígenas, bem diferente dos blocos afro ou do "axé" de Salvador e das escolas de samba "show para gringos" do Rio de Janeiro. Cada região ou povo constrói suas manifestações culturais próprias e procura diferenciá-las das outras vizinhas. Buscar ser diferente é da essencia dos povos. E o Carnaval é uma prova disso.

A generalização do estilo "axé" levou para o Brasil todo este modo de fazer Carnaval inventado em Salvador faz menos de 30 anos. Uma micareta em Manaus ou em Fortaleza é a mesmice só. Um tipo de Carnaval que até na Bahia está sendo muito condenado, principalmente depois da morte de Antonio Carlos Magalhões (os anos ACM foram embalados pela trilha sonora do "axé", cujos artistas ele soube favorecer bem). Hoje ninguém aguenta mais o "apartheit" das cordas dos blocos, com os brancos e ricos turistas brincando protegidos por "cordeiros" negros e pobres, enquanto na "pipoca" a violência rola geral, inclusive a Polícia baixando o pau na galera que não pode pagar um "abadá" de R$1.000,00. A violência no Carnaval ainda é associada ao rítmo e às letras das músicas, que nao deixarão clássicos, a exemplo de outros ritmos ligados ao samba. A festa do Senhor do Bonfim acabou com os trios de "axé" para pacificar mais os brincantes.

E o abadá é um dos símbolos deste tipo de Carnaval. Tem abadá caro para os ricos, e abadá de R$150,00 para os pobres (que em salvador são quase todos negros). O abadá significou a morte da criatividade e beleza das fantasias antigas (que no Recife, Óbidos (?) e outros lugares ainda são atuais) e a entronização da massificação. Da confecção do abadá desapareceu a arte característica das fantasias anteriores.

Então, os defensores do "cuximã" não estariam dando um recado? Vejo assim, que eles querem que busquemos o nosso jeito próprio de fazer Carnaval, que usemos palavras próprias para descrever nossas fantasias (e a fantasia que passa pela cabeça de um nativo do Baixo Amazonas é bem diferente da fantasia que veste um baiano do "axé"). É possível que o jeito do tal "cuximã" seja o mesminho do "abadá", só mudando o nome. Ainda assim já seria um bom começo. E é possível que mudemos também a ordem do trio, as letras e ritmo das músicas etc.

Além de Carlinhos Browm que começou a fazer um trio de axé "pipocão" sem exclusão de ninguém, Margarete Meneses inovou este ano também: o seu bloco "Os Mascarados" terá ainda corda, mas qualquer um pode entrar, desde que esteja fantasiado a bel prazer. Até aqui em Salvador o modelo trio-corda-abadá já está ficando para o passado.
Anônimo disse…
"Leseira" é o caboclo Vinente forçar a barra e querer ser um "italiano" chamado "Vinencci"...
Anônimo disse…
Jeso meu amigo, esse nome CU-XI-MÃ é literalmente confundir bunda de Índio com Bata de Árabe, quem inventou essa maluquice quer gozar com a nossa cara. Deixa nossos índios fora dessa e vamos brincar o carnaval.
Anônimo disse…
Esse Vinente...Fala isso, porque mora há pouco tempo em Santarém. Não conhece nossas raízes. Veio de Orix, e só faz criticar nossa cidade. Já ouvi de sua boca, que a cultura tapajônica não vale nada. Que o máximo que os índios conseguiram fazer, foi umas panelinhas. Isso é leseira...
Fala isso, pq tbm tira vantagem do povo santareno, assim como os abadás. Sou santarena ,adoro Laurimar e voto a favor do Cuximã
Anônimo disse…
Toma, Vinente!!!Assosega teu facho...
Anônimo disse…
O Nelson está certo em levantar esta discussão, já que santarenos não fazem, fica claro que o carnaval virou negócio e que isso não é ruim, mas quando vira negócio não se pode dizer que é um elemento de manifestação da pureza popular e sim uma estratégia de marketing para vender e fazer sucesso no mundo do capital. Mascarar o carnaval da Bahia que hoje desfila em Santarém com elementos da nossa cultura, como o tal cuximã que é indígena é uma maquiagem barata, pois as mudanças reais que emana do povo nós sabemos apreciá-las muito bem.

Raimundo Coelho
Anônimo disse…
Raimundo Coleho, não sei quem é você, mas depois desse teu comentário acho melhor encerrar por aqui a discussão, esgotou os argumentos, como no popular, MATOU A PAU!